Com o PCP e a CDU:<br>alternativa e confiança

Octávio Augusto (Membro da Comissão Política do PCP)

Lá do alto, am­pli­fi­cados e de­vi­da­mente en­qua­drados pelos co­men­ta­dores de ser­viço e ao seu ser­viço na co­mu­ni­cação so­cial, o pri­meiro-mi­nistro, mi­nis­tros e de­mais apa­ni­guados des­do­bram-se em fazer passar a men­sagem de que vi­víamos acima das nossas pos­si­bi­li­dades, mas que os sa­cri­fí­cios va­leram a pena... Se­gundo eles, há si­nais que in­dicam que o pior já passou. Os co­fres estão cheios, mas re­formas vão pros­se­guir, com estes ou com ou­tros, os que in­te­gram «o arco da go­ver­nação».

Os de­pu­tados do PS, PSD e CDS pau­taram a sua acção pelo si­lêncio e du­pli­ci­dade

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Aqui em baixo, no País real, a re­a­li­dade é bem di­fe­rente. Os si­nais são ou­tros e mos­tram à evi­dência os ver­da­deiros re­sul­tados desta po­lí­tica de di­reita e os reais ob­jec­tivos dos seus exe­cu­tores:

  • Li­quidar o apa­relho pro­du­tivo, eli­minar postos de tra­balho

Al­pi­arça: Re­noldy, 56 postos de tra­balho. A ad­mi­nis­tração quer en­cerrar a em­presa num pro­cesso pouco claro e re­pleto de ile­ga­li­dades. A pro­dução parou. O único cli­ente que res­tava, a Sonae, can­celou as en­co­mendas. A marca branca con­tinua nas pra­te­leiras, o leite virá de ou­tras pa­ra­gens.

En­tron­ca­mento: EMEF. Falta tra­balho, ma­téria-prima e en­co­mendas. Vêm de Es­panha as peças que aqui po­diam ser fa­bri­cadas. Des­man­telar, res­cindir, des­pedir para pri­va­tizar.

A ver se pega. Tra­ba­lhar no 1.º de Maio.

Mer­cado de Tomar. Os ven­de­dores vendem menos e estão em di­fi­cul­dades. O mer­cado está en­cer­rado no 1.º de Maio. O PSD tra­vestiu-se de de­fensor dos co­mer­ci­antes e vá de propor que o mer­cado abrisse. Desta forma ar­di­losa, de­zenas de tra­ba­lha­dores da au­tar­quia se­riam obri­gados a tra­ba­lhar no Dia do Tra­ba­lhador.

  • Re­es­tru­turar para des­truir

Centro Hos­pi­talar do Médio Tejo. Em nome da ren­ta­bi­li­zação e do ob­jec­tivo de me­lhorar o ser­viço pres­tado, de­sar­ti­culou-se ser­viços, con­cen­trou-se as ur­gên­cias dos hos­pi­tais de Tomar e Torres Novas em Abrantes. O que antes fun­ci­o­nava mal, mas fun­ci­o­nava, deixou de fun­ci­onar. A gripe já se foi, a ur­gência con­tinua um caos. O acesso aos cui­dados de saúde pi­orou subs­tan­ci­al­mente. No Hos­pital de San­tarém passa-se o mesmo. Os pri­vados es­fregam as mãos de con­tentes. Os utentes optam cada vez mais pelo re­curso a uni­dades pri­vadas em vez de se su­jei­tarem a horas e horas de es­pera nos hos­pi­tais pú­blicos.

  • A as­fixia do En­sino Po­li­téc­nico

A remar contra a cor­rente, os res­pon­sá­veis dos po­li­téc­nicos, con­fron­tados com cortes in­su­por­tá­veis, vão fa­zendo das tripas co­ração para ga­rantir o fun­ci­o­na­mento dos cursos.

  • Ou­tros si­nais

Uma pro­funda crise so­cial, de­ser­ti­fi­cação dos cen­tros his­tó­ricos, co­mércio e ser­viços e de­sa­pa­recer, en­cer­ra­mento de tri­bu­nais, de ex­ten­sões de Saúde, mi­lhares de utentes sem mé­dico, caos nas ur­gên­cias e va­lên­cias hos­pi­ta­lares, cen­tenas de es­colas e jar­dins de in­fância en­cer­rados, postos de cor­reios fe­chados e ser­viço postal caó­tico, en­cer­ra­mento de ser­viços da Se­gu­rança So­cial e res­pec­tivos des­pe­di­mentos. In­tro­dução de por­ta­gens, pontes sobre o Tejo e aces­si­bi­li­dades que nunca mais se cons­troem. Li­qui­dação de fre­gue­sias à re­velia das po­pu­la­ções.

Tudo isto e muito mais acon­teceu no dis­trito de San­tarém.

Não pôr tudo no mesmo saco

Com a acção e a in­ter­venção do PCP e do seu de­pu­tado, dos eleitos da CDU, do mo­vi­mento sin­dical e dos utentes, com a luta dos tra­ba­lha­dores e das po­pu­la­ções, a de­núncia, a pro­posta, a pa­lavra e a ini­ci­a­tiva so­li­dária, a mo­bi­li­zação para a luta, muitas vezes total ou par­ci­al­mente vi­to­riosa, foi uma cons­tante ao longo destes anos.

PS, PSD e CDS e res­pec­tivos de­pu­tados pri­maram pelo si­lêncio, pela pre­sença de cir­cuns­tância ou pela du­pli­ci­dade de po­si­ções, como é o caso ca­ri­cato da­quela de­pu­tada do PSD que, na qua­li­dade de eleita au­tár­quica se des­locou à As­sem­bleia da Re­pú­blica para sen­si­bi­lizar o PCP para um as­sunto da res­pon­sa­bi­li­dade do seu par­tido e do Grupo Par­la­mentar de que fazia parte; ou ainda da­quela outra, também do PSD, que, de vela na mão, par­ti­cipou numa vi­gília na sua terra contra as al­te­ra­ções no fun­ci­o­na­mento do Centro de Saúde e de­pois, no Par­la­mento, tomou po­sição bem di­fe­rente.

Agora, que já cheira a elei­ções, aí vêm eles, uns atrás dos ou­tros, des­do­brando-se em vi­sitas, ini­ci­a­tivas, per­guntas e re­que­ri­mentos, de­cla­ra­ções para a co­mu­ni­cação so­cial sobre pro­blemas que existem há muito e que eles, cúm­plices e tantas vezes res­pon­sá­veis di­rectos, ig­no­raram.

No quadro da acção de con­tacto e es­cla­re­ci­mento que es­tamos a pro­mover cons­tata-se uma cres­cente sim­patia e iden­ti­fi­cação com o PCP e a CDU, a sua acção, in­ter­venção e pro­postas. Cons­tata-se também que o des­cré­dito com a po­lí­tica e os po­lí­ticos, sin­te­ti­zada na ex­pressão «são todos iguais», se es­bate na me­dida em que, na con­versa, no exemplo con­creto, muitos são os que se apressam a dar-nos razão e a per­ce­berem que afinal… não se pode meter tudo no mesmo saco!

É ta­refa nossa trans­formar tudo isso em opção cons­ci­ente e con­se­quente, cor­po­ri­zada na adesão ao PCP e no voto na CDU.




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